EU SOU FILHA DAS ÁGUAS
Abre a roda, que eu quero entrar
... Lembro, dos beliscões discretamente torcidos pela minha
mãe na tentativa de Cesar meus floxos de
riso durante as monótonas e prolongadas missas.
Lembro, da
mão protetora e segura do meu tio Osvaldo, raspando os calos nas minhas mãos ainda tão pequenas ,quando
era levava a
seções espíritas. Sem me
dispersar com cantorias e senta levanta, sentia a presença
serena e silenciosa de Allan
Kardec , iluminando irmãos, doutrinando espíritos...
Mas nada se compara
com a emoção de ter escutado o chamado de Jurema, congresso de
umbanda em cachoeirinha,
entrei na roda, senti
que nunca estive fora dela.
Um pai
de santo beijou minha mão e eu o vejo em todos os outros negros. Atabaques, tambores, o ritmo mais brasileiro, batendo forte em meu peito. Povo sofrido que canta,
dança, tem fé.
Falei pra minha mãe, assídua
da Igreja São José Operário que eu
queria entrar para a umbanda da linha branca.
Ela não se surpreendeu, disse que na madrugada que eu nasci ela sonhou com
uma cachoeira saindo de dentro dela, me segurando nas águas, mas eu flutuava na correnteza. Entendi por ela ,tão rígida, nunca me repreendia quando eu ainda muito criança,
fugia de casa para tomar banho de sanga.
Pai ateu , mãe e irmãs católicas fervorosas, Marido Budista, filha Kardecista...
Alguém tem que rodar a baiana nesta família.
Meu amigo da escada, tua madrinha esta ouvindo o chamado de Jurema.
Em cachoeirinha, 15 de novembro de 2014, dia nacional da umbanda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário