Alinhavando Pensamentos
...e conhecendo gravatai atravez das lendas
Quando alinhavo pensamentos, me enrosco nas massarocas dos fios que vou tecendo. Como uma aranha, presa na própria teia, me perco nas histórias ou me encontro dentro delas. Só sei que faço parte desse mundo inventado. Sou um pedacinho desta imensa colcha de retalhos costurada dia a dia. Queria que ela fosse alegre, colorida e grande o suficiente para agasalhar o mundo inteiro.
Negras
sombras
A Mucama do solar dos Bina
Aqui na
aldeia dos anjos em época de negras sombras, alguns escravos serviram a bons
senhores, também tiveram apoio de solidários abolicionistas.Mas a pele escura
marcou-lhes mais que o ferro em brasa, com o símbolo de seus poderosos
senhores. Os amores vividos pelos negros em senzalas, a eles não pertenciam. Só
a dor permanecia em seus peitos, quando eram afastados das tristes escravas. Também
arrancavam de seus braços as pequenas cativas crianças, para as mães amamentarem os filhos brancos, nascidos nas casas grandes. No porão
do antigo solar dos bina, onde abrigavam os escravos, conta-se que em noites
tão escuras quanto a pele do mais puro descendente africano, escuta-se a triste
cantiga de uma gentil mucama que ninava uma linda sinhazinha chorona. A escrava
teve seu filho vendido a um capataz de longe, para ela cuidar da menina chorona. A criança tinha
fortes dores de barriga por que o leite branco da mucama negra, azedou. Ficou
salgado como as lagrimas vertidas de seus tristes olhos, deslizando em seu rosto,
caindo sobre seus peitos, sugados pela pequena sinhazinha, enquanto ouvia tristes canções de ninar.
A canção da
sinhazinha
Foi simbora
o capataz
Carregando um fio meu
Sinhazinha num
sabia
meu leite
num era seu.
Liberdade,
io num tem
Esperança,
se perdeu.
Noite quente,
fica fria
se não embalo fio meu.
Io não durmo
Io só choro
Choro com a sinhazinha.
Coitadinha num
sabia
O leite num
era seu.
Preto velho
mãe Maria
traz um dia
fio meu
Faiz capataz devolve ele pra mim.
Denize Domingos
Luiz Gonzaga
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