quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Machismo no mundo encantado

Interpretando personagens








A ideia era escrever enredos usando fortes personagens femininas, enfatizando o aspecto emocional de cada uma delas.
Me surpreendi percebendo interpretações machistas mesmo dentro do surrealismo. Tanto uma cigana beduína que vagava por desertos e vales contando historias, quanto a sereia atraindo homens com seu canto, ambas, foram consideradas vadias (putas) por alguns leitores.
Em nenhum momento explicitei ou sugeri promiscuidade ou liberação sexual destas personagens. No entanto, o fato de serem mulheres sensíveis, delicadas maternais e também libertarias e aguerridas, não subjugadas as suas paixões e condições estabelecidas nos contos de fadas, elas não esperam por um príncipe salvador, transgredindo as normas do mundo encantado.
O mestre protetor da cigana, sábio e desprendido, orientou-a para que seguisse seu destino. idealista, ela o abandonou para ir em busca de liberdade, porem, nunca a encontrou, A liberdade utópica relacionada aos peregrinos ciganos, nada mais é do que uma infinita estrada, montando acampamentos e tendas a cada pausa de ânsia por caminhar. 
Em contraponto, a sereia que foi uma valente índia guerreira, assassinada por seu pai e irmãos, foi jogada no rio, de onde os peixes a ressuscitaram transformando-a em uma dúbia criatura, metade peixe, metade mulher. Esta definição de mulher peixe, expressa a condição da mulher objeto, que é vista por alguns homens como um ser extremamente sensual, tendo sua imagem camuflada em sentimentos e medos dispersos numa postura de auto proteção. 
Assim, o universo feminino, não se desvenda por homens com conceitos machistas, cujas impressões não ultrapassam aparências, desejando possuir algo alem de suas capacidades de compreensão.

 O etéreo mundo encantado de onde busco tais personagens, imersos em anseios e questionamentos particularmente femininos, sustentam-se num nível sensível, em que a poesia aflora nos poros das personagens, antes das palavra formando metáforas e enigmas jamais desvendados por apegos e lógicas.


Denize Domingos