quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Alinhavando Pensamentos 

Denize Domingos 


As Aventuras de Luíza

Uma Noite de Trovoadas

A noite prometia ser longa, trovoadas e raios ameaçavam    partir o céu em mil  pedaços. A pequena cozinha no fundo da casa toda em madeira, tornava-se mais aconchegante quando os pais de Luíza  reuniam-se  com as  filhas em torno da mesa. A janta era habitualmente  servida antes da novela das oito, mas naquela noite, foi diferente. Uma grande tempestade  aguçava a imaginação de Luíza. A ansiedade provocada  pelo barulho da chuva, vento, ranger de galhos, estalos das taboas, chilhindar das folhas, era como ouvir a sinfonia de uma emocionante aventura. Tudo pareceu    ganhar  vida, no momento em que  um estrondoso barulho, apagou todas as luzes . Logo foi acesa uma vela. O casal sabia que o estrago na rede elétrica  tardaria a ser consertado. A refeição já estava pronta, e depois que todos comeram, a mãe de Luíza organizou a louça. O  pai das meninas, gostava de assustá-las formando sombras na parede. Mas apenas Luíza não percebia  que os coelhos, gatos , jacarés e outros animais  misteriosamente surgidos  nas paredes , eram  efeitos da habilidade com as mãos, que o pai, exímio  datilografo e desenhista, gostava de praticar.  Assustada, a menina via as irmãs rindo dela. Tentava disfarçar o medo que sentia daquelas extranhas criaturas sem contornos nem cor. O pequeno toco de vela, aos poucos, cedia lugar a negra cortina, cobrindo os brinquedos, rostos, moveis e as janelas, onde em dias ensolarados, a criança, com cinco anos, via a luz entrar, encorajando-a e convidando a desvendar  o mundo. Por mais que ela desejasse, não havia como evitar, era hora de todos irem dormir. A caminha com grades da irmã mais nova, foi destinada a Luíza, em troca de uma boneca e alguns gibis. Ali, ela sentia-se segura, sabia  que as sombras da noite não conseguiriam tocá-la. Para sua vergonha, ela fazia  xixi na cama. Olhava para o peniquinho ao lado, próximo, sem coragem de chegar até ele. Todos pensavam que   Luíza tinha o  sono pesado, ou problema nos rins, bexiga... Sem poder beber liquido antes de deitar-se, ela sentia sede e  custava a dormir. Naquela noite como de costume,  ficou  acordada até tarde, ouvindo o barulho da chuva, imaginando o frio que fazia lá fora, tapada embaixo das cobertas, tentando se esconder dos vultos que via passar diante dela. O vento, empurrava um galho de pessegueiro batendo-o compassadamente contra a  janela ao lado da cama. Luíza espantada, viu a veneziana se abrir, e passaram por um buraco no vidro quebrado, quatro pequeninos homenzinhos. Usavam roupas xadrez, longos chapéus, ficando todos ao lado  de sua cama, sem olharem para ela.  Estava acostumada a sentir medo, ver sombras semelhantes a  pessoas  moverem-se nas paredes, caminhando  pela casa.  Mas aqueles homenzinhos, ela nunca tinha visto e não a assustaram.   Ela os observou atentamente, durante os breves instantes que estiveram ao seu lado. Distraiu-se por segundos e tudo sumiu. Assustada, chorou, chamando a mãe, que  levou-a para dormir junto dela.  Novamente, a menina  viu os pequeninos, desta vez, olharam para ela, sem que percebesse  como eles foram embora. Assim que amanheceu, Luíza  acordou com os gritos do pai, perguntando quem havia rasgado uns documentos guardados em sua pasta. Luíza falou que os homenzinhos com pontudos chapeuzinhos, tinham rasgado os papéis ao lado dela, colocando-os picados dentro do peniquinho. O pai ficou muito intrigado,  não perguntou mais nada, saiu para o trabalho em silencio. A mãe, ouviu a menina  com atenção, beijou-a com carinho, dizendo que acreditava nela. Luíza nunca esqueceu deste sonho,  ou da visita que espera se repetir um dia. Ela cresceu acreditando em bruxas, fantasmas, duendes e fadas. Deixa sempre uma janela aberta para que possam entrar. 

Denize Domingos 























                              El sueño de las hadas