Alinhavando Pensamentos
Denize Domingos
As Aventuras
de Luíza
Uma Noite de
Trovoadas
A noite prometia ser longa, trovoadas e raios ameaçavam
partir o céu em mil pedaços. A pequena cozinha no fundo da casa toda
em madeira, tornava-se mais aconchegante quando os pais de Luíza reuniam-se com as filhas
em torno da mesa. A janta era habitualmente servida antes da novela das oito, mas naquela
noite, foi diferente. Uma grande tempestade
aguçava a imaginação de Luíza. A ansiedade provocada pelo barulho da chuva, vento, ranger de
galhos, estalos das taboas, chilhindar das folhas, era como ouvir a sinfonia de
uma emocionante aventura. Tudo pareceu ganhar
vida, no momento em que um estrondoso
barulho, apagou todas as luzes . Logo foi acesa uma vela. O casal sabia que o
estrago na rede elétrica tardaria a ser
consertado. A refeição já estava pronta, e depois que todos comeram, a mãe de Luíza organizou a louça. O pai das
meninas, gostava de assustá-las formando sombras na parede. Mas apenas Luíza não percebia que os coelhos, gatos ,
jacarés e outros animais misteriosamente
surgidos nas paredes , eram efeitos da habilidade com as mãos, que o pai, exímio datilografo e desenhista, gostava de praticar.
Assustada, a menina via as irmãs rindo dela.
Tentava disfarçar o medo que sentia daquelas extranhas criaturas sem contornos
nem cor. O pequeno toco de vela, aos poucos, cedia lugar a negra cortina, cobrindo
os brinquedos, rostos, moveis e as janelas, onde em dias ensolarados, a criança,
com cinco anos, via a luz entrar, encorajando-a e convidando a desvendar o mundo. Por mais que ela desejasse, não havia
como evitar, era hora de todos irem dormir. A caminha com grades da irmã mais
nova, foi destinada a Luíza, em troca de uma boneca e alguns gibis. Ali, ela sentia-se
segura, sabia que as sombras da noite
não conseguiriam tocá-la. Para sua vergonha, ela fazia xixi na cama. Olhava para o peniquinho ao lado,
próximo, sem coragem de chegar até ele. Todos pensavam que Luíza tinha o
sono pesado, ou problema nos rins, bexiga... Sem poder beber liquido antes de
deitar-se, ela sentia sede e custava a dormir. Naquela noite como de costume, ficou acordada até tarde, ouvindo o barulho da
chuva, imaginando o frio que fazia lá fora, tapada embaixo das cobertas, tentando
se esconder dos vultos que via passar diante dela. O vento, empurrava um galho
de pessegueiro batendo-o compassadamente contra a janela ao lado da cama. Luíza espantada, viu a
veneziana se abrir, e passaram por um buraco no vidro quebrado, quatro pequeninos
homenzinhos. Usavam roupas xadrez, longos chapéus, ficando todos ao lado de sua cama, sem olharem para ela. Estava acostumada a sentir medo, ver sombras semelhantes
a pessoas moverem-se nas paredes, caminhando pela casa. Mas aqueles homenzinhos, ela nunca tinha visto
e não a assustaram. Ela os observou atentamente,
durante os breves instantes que estiveram ao seu lado. Distraiu-se por segundos e tudo sumiu. Assustada, chorou, chamando a mãe, que levou-a para dormir junto dela. Novamente, a menina viu os pequeninos, desta vez, olharam para
ela, sem que percebesse como eles foram
embora. Assim que amanheceu, Luíza acordou com os gritos do pai, perguntando quem
havia rasgado uns documentos guardados em sua pasta. Luíza falou que os homenzinhos
com pontudos chapeuzinhos, tinham rasgado os papéis ao lado dela, colocando-os
picados dentro do peniquinho. O pai ficou muito intrigado, não perguntou mais nada, saiu para o trabalho
em silencio. A mãe, ouviu a menina com
atenção, beijou-a com carinho, dizendo que acreditava nela. Luíza nunca
esqueceu deste sonho, ou da visita que espera
se repetir um dia. Ela cresceu acreditando em bruxas, fantasmas, duendes e fadas.
Deixa sempre uma janela aberta para que possam entrar.
Denize Domingos