quinta-feira, 10 de dezembro de 2015


               
cartinha ao Papai Noel 



Papai Noel,

Acreditava em fadas, gnomos, duendes, anjos,.. tenho medo de bruxas do mal, diabo e demônios. Mas nunca confiei muito neste velhinho de vermelho.

Sempre fui maluquinha, mas muito observadora.Percebia próximo ao natal meu pai fugindo aos sábados, retornando com ar mais feliz do que de costume, tentando esconder os pacotes que trazia. 
Em todos natais, as crianças da vizinhança se encontravam la em casa, para ver e brincar com nossos presentes (os mais lindos lançamentos da Estrela). 
Eu sabia que o bom velhinho lá em casa era o meu pai e me entristecia ver outras crianças com brinquedos mais simples,porem, trazidos pelo Papai Noel. 
Eu queria que meu pai não precisasse trabalhar tanto para comprar nossos brinquedos e ficava com pena de algumas crianças por não receberem presente algum. 
As luzes do pinheirinho enfeitado na rua, piscavam a noite inteira, ascendendo em meu coração o espirito do natal. No armazém próximo, vendiam sonhos... Junto com merengues, vinham bonequinhos para montar o presépio. Convencia minhas amigas daqueles doces serem mais saborosos que outras guloseimas.Em poucos dias o presépio ficava completo e todas as noites a criançada se reunia em torno do pinheiro. Olhávamos não as luzes coloridas, piscantes, mas para o céu, procurando a estrela guia, anunciando o nascimento de Jesus.


Ensaios da coletânea Memórias de Luíza
DD







                                                          Família Dias, Hino de Reis 


sexta-feira, 4 de dezembro de 2015



AO MEU ANJO DA GUARDA: 


Dizem...que no dia do aniversário, nosso anjo da guarda realiza um pedido. Não tenho problemas com  minha idade, me despeço dos 52 anos de questionamentos, vivências e nenhuma  certeza absoluta, saudando o novo tempo que me aguarda. Diante do espelho não me assusto, no fundo dos meus olhos enxergo o mesmo brilho de quando era menina: A criança pequena, esperando a mãe, aflita  por ter ficado sozinha, preocupada com  meu pai saindo pro trabalho em dias de trovoadas.Eu rezava para um raio não cair na cabeça dele, porque era isso que minha mãe dizia que aconteceria comigo se eu fugisse de casa para tomar banho de chuva em dias de temporais. Vejo ainda, o brilho do entusiasmo, felicidade, alegria e eterno encantamento com a vida, refletido em meu rosto de mulher madura, com algumas atitudes nem tão adultas.




...E vejo a chama da esperança reacendendo a cada palavra de consolo, incentivo, gestos de carinho, amor,amizade, secam lagrimas, arrancando facilmente um franco sorriso.

Mas devo confessar: Muitas vezes, minha sensível  alma de artista me castiga.Sinto lanças me ferindo  quando ouço palavras agressivas, e vejo grandes sofrimentos, tragédias...  tenho dificuldades de aceitar minha fragilidade perante a severidade do mundo.Ver a miséria fazendo sucumbir  a dignidade das pessoas. Cavalos trotando mancos, cansados, puxando carroças quando deveriam estar  livres nos campos. Cachorros de rua, famintos, doentes sendo chutados... tantas outras coisas mais ou menos cruéis me incomodam e aos poucos, apagam meu  brilho, enfraquecendo  minha fé na humanidade. 













Cada ano que carrego, aumenta a saudade de pessoas  queridas que perdi ou passaram deixando boas lembranças. As mulheres que admiro, as que  me serviram de exemplos,os   homens da minha vida. Meu pai,o tio Osvaldo, meu sogro,meu marido, o meu primeiro namorado aos 13 anos,Ivan Dreher dos Santos,nunca me beijou, nunca o esqueci. Me namorou para ajudar-me a burlar a ditadura familiar. Me buscava em casa, levava nas festas... Meu primeiro baile de carnaval. De longe, me observava  dançando com minhas amigas a noite inteira. O tempo passou, outros me convidaram pra dançar,num bailado que durava o tempo de uma música, um sonho  ou as vezes,uma bela historia. No livro  da minha vida, meu marido esta presente em tantos capítulos. Abriu portas, trouxe tantas alegrias para esta longa historia. Meu sogro querido, artista da ourivesaria, antes de falecer me chamou em seu quarto, me doou algo que garante minha independência, pedindo apenas  que eu nunca abandone a arte. Pela natural regra da vida,outras pessoas queridas faltarão,ou naturalmente serão  afastadas, deixando um colorido especial nas lembranças,  ou fazendo a vida ficar  mais desbotada. Por esta percepção, dou valor a cada minuto da minha existência. Fujo de pessoas que desperdiçam vida, oportunidades e convívio rico de momentos preciosos, justificando nossa passagem no planeta, tornando a vida especial, nos fazendo ser lembrados, expandindo nossos pensamentos. Economizam palavras doces, gestos carinhosos, extinguindo  a magia dos relacionamentos. Me aproximo daquelas pessoas que extraem a  da vida o melhor. Brigo com garra quando sou injustiçada. Luto somente por coisas  que de fato me pertencem e  são de  direito. Mas não manipulo pessoas e destinos,  espero passiva vir a mim naturalmente aquilo   que mereço, ou o que considero presentes da vida. Não arranco nada dela nem de ninguém. Dispenso tudo que me traga sofrimento,exigindo disputas, justificativas e indignas batalhas. Mas aceito as coisas boas que me são  proporcionadas por conquistas, méritos ou dadivas do universo, aumentando minhas genuínas lembranças que me tornam uma pessoa realizada e completa. 










(esta imagem é da internet, só tenho uma foto de quando era criança.Eu pegava todas para recortar, pintar por cima e estragava tudo. Minha professora da primeira serie dizia que eu era hiperativa ,minha mãe dizia que eu era uma peste, mas quando pensava que eu não estava escutando, elogiava minhas "obras" desde muito cedo toda a família sabia que eu seria artista ) 








...Sempre fui assim esquisitinha  desde criança, por isso, ficava esperando o dia do meu aniversário sem falar nada a ninguém. Queria saber se seria lembrada. Minhas irmãs eram diferentes, (normais) faziam campanha o ano inteiro, colocando bilhetinhos na geladeira, dentro dos sapatos do meu pai. Ai...bem... do meu aniversário quase sempre esqueciam. Eu chorava escondida, depois me recompensavam com presente, abraços...  Mas ficou em mim aquela sensação  de  ter sido esquecida. 

Nunca faço festa de aniversário nem revelo esta data a  ninguém. Comemoro discretamente, somente  com minha família. Num certo dia 5 de dezembro, meu anjo desceu do céu, lhe  pedi para encontrar alguém que me colocasse sempre em primeiro lugar, e nunca esquecesse do meu aniversário. Há 33 anos eu sempre apago uma velinha ao lado do meu anjo da guarda aqui na terra,  junto com a filha maravilhosa que ele me deu. Meu maior presente!





Neste aniversário, farei um pedido ao meu anjo da guarda que há de descer do céu para realizar meu pedido: Que  os milhares de relógios do mundo, despertem todas as  pessoas de seus pesadelos, para que vivam como se fizessem parte de um mundo encantado.










Paizinho querido, era tanto trabalho para nunca deixar faltar nada, mãezinha, a casa sempre tão cheirosa, arrumada, comida gostosa, roupa limpinha... Todos os dias, eu sei que em nenhum momento vocês me esqueceram e desejam sempre  o melhor pra mim. Minhas irmãs, batalhadoras, guerreiras.. me ensinaram  a escrever bilhetinhos de aniversário: Publiquei livros, inventei historias, estou escrevendo uma cartinha de aniversário. 


Muitas pessoas encontrei no meu  caminho, algumas  permanecem ao meu lado,outras, deixaram boas lembranças, ou apenas passaram. Me identifico  com aquelas que pensam como eu. Respeito todas, admiro principalmente as que são melhores do que eu. Mas todas deixam algum encimamento. 
                       

A vida é curta e eu curto a vida! 

 


















Amanhã apago mais uma velinha!