Alinhavando pensamentos
Todos os poemas, contos e textos publicados neste blog, são de autoria de Denize Domingos,
assim como algumas imagens, porem, muitas delas, foram compartilhadas de sites da internet.
Denize Domingos
Projeto Vestígios Açorianos conta com apoio de artistas que valorizam e preservam as origens e tradições do Rio Grande. Talento, humildade , gentileza e gratidão a cada aplauso e reconhecimento dos camaradas. Renato Borguetti, assim como tantos outros artistas que difundem nossa cultura, não são astros nem ídolos, são pequenas estrelinhas, que cheias de luz, descem do céu para brilharem nos palcos dos pampas e do mundo. Obrigada Borguettinho, pela atenção e apoio aos projetos Vestígios Açorianos e Conhecendo Gravataí através das Lendas. Denize Domingos
Barra do Ribeiro, 27/09
Visita a Fabrica de Gaiteiros, um projeto que ajuda a manter viva a cultura do Rio Grande do Sul
Conhecendo Gravataí através da ficção
O espelho da fonte do forno
Um dos contos do livro Romances no Rincão dos Gravatas, em homenagem a um dos Anjos da Aldeia, Patrão Valeci Bitelo
Um dos contos do livro Romances no Rincão dos Gravatas, em homenagem a um dos Anjos da Aldeia, Patrão Valeci Bitelo
Noite clara como outras tantas. A lua prateada
iluminava o céu. O perfume de rosas, inalado a cada suspiro tornava
aquela noite ainda mais triste para alguém que admirasse sozinha a beleza das estrelas. Mas, ao observar
a lua erguida, equilibrando-se no alto da torre da Igreja matriz, percebia-se que
aquela seria uma noite especial.
Próximo a igreja, no centro da cidade, existe
uma mística furna. Conta-se que, em tempos
distantes, era o lugar em que índios nativos realizavam
sagradas cerimônias e onde pulsava o coração de uma tribo. Uma generosa vertente
jorrava águas na fonte, sempre renovadas pelas chuvas e pelas lágrimas do menino de pedra, filho de tupã. Neste Lugar sagrado, os índios
realizavam festas, cerimônias, feitiços e magias. Também invocavam espíritos protetores. Muitos
amores foram amarrados ali, consumados na
relva à beira da fonte. As águas abençoadas tornavam fértil o ventre das mulheres que se banhavam iluminadas sob a luz da lua. Nestas águas foram paridos
e banhados muitos recém nascidos, todos enfeitiçados por Tupã que desejava torná-los meigos e dóceis como as serenas águas da fonte. Assim, no futuro,
formariam uma grande tribo fraterna e evoluída. Muitos guerreiros tiveram
suas feridas de batalha e chagas de amores cicatrizadas com as doces águas que
curavam os males do corpo ou do espírito e que também
serviam para adoçar a vida de pessoas amarguradas. Depois de séculos, a fonte encantada
ficou conhecida como Fonte do forno. Suas
águas ficaram poluídas, mas, ainda hoje, não
perderam seus poderes. As milagrosas águas atendem aos
pedidos e abençoam os puros de coração e de almas generosas. Em uma cálida
noite de lua cheia, quando a cidade silenciava, uma talentosa e solitária pianista
saiu de sua casa sem destino e perambulou até a praça da matriz, onde já
era conhecida como uma excêntrica artista. Ela parecia triste. Depois de escrever suas partituras e dedilhara durante
horas as teclas de seu velho piano, buscava inspiração.
Suas mãos delicadas fizeram brotar lindas músicas de um instrumento
quase em ruínas. No entanto não havia
ninguém para escutá-la. Tentando distrair-se,
com seu rotineiro passeio noturno, ela parou em frente à igreja. Ofertou uma oração à lua pedindo-lhe que Deus lhe proporcionasse
alguma alegria a sua vida tão solitária e vazia, ainda que seu piano fosse o seu maior e mais fiel
companheiro. Abstraída, ela sentou-se em um banco na praça da matriz, entretida,
observando pessoas que andavam nas ruas. Um casal apaixonado beijavam-se diante
dela, adoçando-lhe os lábios. A mãe, que embalava seu filho, contagiava-lhe com o afago e com o carinho da criança que jamais adormecera escutando suas cantigas de ninar. Três jovens, com uniformes
escolares,
faziam
algazarras, espalhando vivacidade e alegria numa noite tão solitária. Lembrou-se, então, de sua juventude e dos tempos de glória,
quando ainda
era uma renomada
pianista em seu pais. Agora, muito embora, vivesse
numa cidade moderna e populosa, sentia-se deslocada e incompreendida por todos. Acalentava
a ilusão de um dia encontrar uma companhia, além dos
cachorros e gatos que recolhia nas ruas. Ela tentava protegê-los
de pontapés e da indiferença de pessoas egoístas. De família tradicional e religiosa,
sempre estudara em colégio de freiras. Não desistia de rezar, tinha muita fé de
que, um dia, deixaria de se sentir tão abandonada. Entretanto, sua esperança se esvaia como o som de uma triste melodia
entoada de seu piano, difusa na
enorme casa quase em ruínas. Aquelas paredes desbotadas, impregnadas de
decadência e bolor, deprimiam-na e a sufocavam ainda mais. Para não mergulhar e
afogar-se na mais profunda tristeza, ela passeava abstraída
em companhia da lua que, atrevida e esplendorosa, iluminava radiante o monótono
caminho da solitária pianista. Então, dirigia-se até a furna,
onde afogava suas mágoas ao banhar-se despida de preconceitos e prudência nas águas
rasas e doces da fonte do forno, desfrutando cálidas madrugadas. Dizem que nos lugares por onde passa à
pianista, tudo fica impregnado com suave fragrância de rosas. Mas são apenas os
poetas, os anjos, os mendigos e as crianças os seres capazes de sentir o etéreo aroma. Como também, as borboletas, os pássaros, os gatos, os cães abandonados, os pobres
de ambição, ricos de esperança, de desprendimento e de humildade. Esses
são conduzidos pela suave brisa da noite e seguem a fragrância das flores e o som do antigo piano, acompanhado
pelas flautas
doces dos anjos que abrem o caminho da solitária artista. No ar paira um doce
perfume que excita,
inebria e, ao mesmo tempo, acalma. Desabrocha como flores, os desejos e os pensamentos
difundidos ao som da música inspirada em mente fértil e criativa. Faz cessar,
por instantes, as lágrimas da pianista que converte solidão
em grandiosas sinfonias.
A noite alta cedia lugar à prolongada madrugada,
misteriosamente envolvida por transparente neblina que
encobria a cidade como convinha acontecer em noites de emocionantes aventuras.
As raras pessoas que ainda andavam nas ruas,
não usavam roupas da moda, nem estavam em evidência. A cidade estava quase
deserta. Havia uma grande festa num
lindo salão de paredes de cristal que rodava, rodava e rodava... Até deixar todos
alegres e tontos, falando as mais bizarras besteiras.
Lendas e estórias sobre a cidade, contadas por
uma escritora que narrava mensagens sussurradas pela brisa do vale, despertaram
a crença de que alguns personagens da estória eram verdadeiros. Todas as pessoas
de corações puros e inocentes desejavam encontrar o menino de pedra, o filho de
Tupã, aquele
que derramava lagrimas abençoadas na fonte do forno. Dizia-se que a antiga
aldeia dos anjos precisava de muitas bênçãos porque fora construída
em cima
de um cemitério indígena.
O filho de Tupã, chorava lamentando por seus antepassados mortos. A pianista ouvia falar na escritora que criou a lenda do Menino de Pedra. Acreditava que os personagens da estória fossem verdadeiros. Era uma pessoa mística e não duvidava que tais absurdos fossem possível. Sempre que ela vagava pela cidade, tentava encontrar o indiozinho, filho de tupã. E, assim, lhe consolar pelo abandono de seu povo e ampará-lo como se cuida de um verdadeiro filho.
O filho de Tupã, chorava lamentando por seus antepassados mortos. A pianista ouvia falar na escritora que criou a lenda do Menino de Pedra. Acreditava que os personagens da estória fossem verdadeiros. Era uma pessoa mística e não duvidava que tais absurdos fossem possível. Sempre que ela vagava pela cidade, tentava encontrar o indiozinho, filho de tupã. E, assim, lhe consolar pelo abandono de seu povo e ampará-lo como se cuida de um verdadeiro filho.
Um livro de
estórias e lendas sobre a cidade seria lançado na manhã
seguinte, no CTG Aldeia dos Anjos, conhecido em toda a cidade. O convite foi feito por gentileza de um dos anjos
da Aldeia. Ele tinha uma cabeleira bem grande que só perdia em
tamanho para o seu coração. Até porque, em se tratando de belezura, o
coração também
ganhava disparado. Os amigos do cabeleira e todos os anjos da aldeia estariam
presentes, mas poucos acreditavam que as lendas e estórias da escritora pudessem
ser verdadeiras.
Faltavam apenas algumas horas para a confraternização de aniversário da cidade. Todos estavam muito contentes, pois
participariam das homenagens .
A autora foi até a fonte do forno para rezar para
o menino de pedra. Pediu, em oração, pelos espíritos dos índios enterrados no misterioso
cemitério. Queria que eles tivessem paz
e que Nossa Senhora dos
anjos abençoasse a cidade e todo seu povo: os imigrantes açorianos, os índios, os caboclos, os afro descendentes e outras etnias. Rogou
a Tupã, aos anjos e à padroeira, que presenteasse a todos com um futuro muito próspero e fraterno. Ao terminar
sua oração, quando retornava para casa, a escritora encontrou a pianista que estava indo até a furna para
banhar-se nas águas da fonte. Ela não se importou por estarem
sujas e rasas. Era do
conhecimento da autora que a solitária pianista sabia de suas lendas e que
acreditava na sua veracidade. Então, por
gentileza, a escritora convidou para o lançamento do livro ,onde todos os anjos
da cidade estariam reunidos. A pianista alegrou-se com o delicado
convite. Depois, ela livrou-se dos incômodos calçados que machucavam seus pés e
seguiu andando descalça com sua túnica branca que lembrava as camisolas usadas
em extintos manicômios. Ela foi perambulando até a fonte, parou diante do muro,
que ficava atrás do Colégio Gregoriano, e foi seduzida pelo aroma das damas da
noite. Lindas... Imaculadas flores brancas com copas semelhantes a cálices de vinho,
ofertando-se ao desfrute, pendendo como cascatas, saltando para fora do muro,
exalando alucinação e perfume.
A pianista colheu algumas flores, fez um
pedido à lua em quanto inalava o forte aroma das flores. Chegando a furna, sentiu
o frescor do orvalho e a forte energia dos índios revigorando seu corpo, invadindo sua alma. Ela invocou todas as entidades do bem, que conhecia: Tupã,
Nossa Senhora dos Anjos, todas as Marias...
Debruçou-se sobre a fonte do forno
e rezou em voz alta uma oração diferente de todas que havia aprendido. Pediu
aos espíritos dos índios da antiga aldeia que perdoassem as maldades e ambições
dos homens e derramassem na cidade todas as bênçãos e graças como presente de
250 anos da cidade. Contou com a misericórdia e bondade dos inocentes indiozinhos
nascidos e concebidos na furna. O vento propagou
a oração aos quatro cantos do vale. Enquanto rezava, a pianista escutou o toque
de tambores e cochichos de anjos .Parecia não estar só, mas, ao concluir a
oração,percebeu que o perfume das rosas e o mágico som de tambores eram sua única
companhia. Então, desapontada, derramou nas águas da fonte lágrimas de decepção e tristeza junto às do menino de pedra. Um lamento,
que somados, irrigava a vertente da fonte através do orvalho, da chuva e veios
d’água que hidratavam a fonte. Por ser tão solitária, a pianista desejava imensamente
que os contos de fadas, que eram capazes de transformam sapos em príncipes e
abóboras em carruagens, transformasse solidão
em alegria. E do menino entalhado na pedra, fizesse gente de verdade . Exaurida, ela deitou-se na relva
umedecida onde os índios faziam amor. Ela desejava sentir em seu corpo um
resto de prazer e carícia, lembrar-se de como era bom sentir-se
amada. A madrugada acendia-se aos raios de
sol. Ela adormecera naquele lugar onde os índios se amavam. Deitada
próxima à fonte, onde nasceram e morreram muitos índios, foi desperta com os fachos de luz que envolviam seu corpo. A
pianista sentou-se diante da fonte, olhou fixamente no espelho das águas
abençoadas onde viu refletida a imagem do
rosto de uma linda menina. Lembrou-se da personagem Iracema, de José de Alencar. A Pianista acreditava em
Deus e nos espíritos que habitavam a mística
fonte. Ela também confiava na bondade das pessoas. Lentamente, ela colocou suas
mãos nas tranquilas águas para afagar o lindo rosto da menina. Então,
o espelho d’água se desfez ao toque. As águas rasas ficaram turvas e nada mais se via
além
das bagas de cigarro, papéis boiando e muitas
folhas naufragadas . Antes que a pianista se desapontasse por ver desfeita à imagem refletida nas águas, o som de tambores ficou mais nítido
e o cochicho dos anjos foi revelado. Ela
sentiu mãos suaves e cálidas tocar seu ombro. Não assustou-se. Era
agradável sentir que não estava sozinha. Virou-se e viu a linda
Iracema carregando num cesto um lindo bebezinho com cara de indiozinho.
A
menina então falou:
- Moça, sei que vives sozinha vagando pela cidade,
recolhendo animais abandonados, tirando notas de um velho piano. Conheço a lenda
do menino de pedra, sei que a
cidade espera que se realize um milagre. Esta criança foi concebida na furna da fonte
e abandonada por seu pai. Eu fui
abandonada por minha família e pelo pai de meu filho. Eu ia afogar o
menino e depois me matar. Se quiser, te entrego
a criança para a senhora criá-la.
Tomando delicadamente
a criança dos braços da menina , ela o aconchegou em seu colo.
O bebê parecia com sua mãe. A pianista, emocionada, acreditando que Deus, ouvira suas
preces, segurou o menino com todo o amor, o mesmo amor que, antes, guardara para oferecer
ao seu filho que nascera
morto.
Ela o apertou em seu
peito, sentiu o frágil coração do indiozinho batendo ritmado como tambores indígenas em sagrados rituais.
A pianista perguntou à menina, parecida com Iracema, se ela gostaria de morar com ela e aprender a tocar
piano. A moça respondeu que apreciava todos os instrumentos, mas só sabia tocar
flauta e tambor.
Os puros de coração haviam seguido o rastro do
perfume de rosas que a pianista exalava. Então, encontraram-na
segurando o indiozinho em seus braços e conversando com a adolescente. Ela
revelava um sorriso jamais expressado em seu
rosto.
O sol erguia-se iluminado e radiante. Seus
raios abrandavam todos os corações amargurados e endurecidos. Já era quase hora
da confraternização de lançamento do livro e um delicioso prato típico seria
servido no CTG.
A cabeleira do
anjo da aldeia estava toda esgualepada pelo vento, que se apressou em arrastá-lo
até a fonte do forno, então, o Anjo cabeludo, assim que pôs seus olhos no pequenino menino caiu de amores por ele. Ficou sabendo de toda
a história. Tomou-o em um de seus braços. O outro, no ombro da mãe adolescente,
em atitude decidida e protetora. E, assim, foram todos para a confraternização.
Chegando ao CTG,
todos os anjos do aldeia estavam
reunidos. O vento usou toda sua força
para chamar a atenção. Ele arrastou as folhas secas, as flores, os capins
e levantou poeira , como também, os vestidos das
prendas.Despenteou as raparigas e abanava as
toalhas das mesas, voaram copos e guardanapos. Tremularam impetuosas as bandeiras do Rio Grande e do CTG. Aquela manhã
foi impregnada com denso aroma de rosas e uivos afinados em couro com
ritmos de flautas,tambores, clarinetes,
piano e gaita...foram escutados. A etérea
melodia, nunca havia sido orquestrada. A misericórdia e
o perdão fluíam
em tom
suaves de mágicas notas e ecoavam
por todo o grande vale.
O sino da
matriz anunciou a mensagem não decifrada pelos homens, mas facilmente
compreendida por um anjo de
imenso coração.
Foi quando o patrão cabeleira adentrou como um celestial mensageiro no Aldeia, segurando o
indiozinho em um de seus braços e
com a mãe adolescente
protegida sob suas asas.Tudo silenciou. Não houve protestos, perguntas ou respostas. O salão estava repleto, mas ninguém se manifestou.
O grande anjo
Cabeleira falou:
-Eis aqui o
nosso menino de pedra, lapidado na rocha por Tupã e feito em carne e osso
por sua mãe. O menino, filho da nossa Iracema, jaz cravejado em meu
peito e na consciência daqueles que não o aceitarem como um milagre da padroeira da aldeia.
Mais uma vez, não houve
contestações.
Todos correram para conhecerem o indiozinho.
Os anjos do Aldeia abraçaram-se com muita ternura e carinho, como se fossem todos
crianças.
O indiozinho
e sua mãe foram adotados pela pianista, aprenderam com ela a arte da música.
O Patrão Cabeleira ensinou ao menino as tradições do Rio Grande, ele
dedicou-se a pesquisar as
raízes do folclore gaúcho, foi o mais querido mascote do CTG. Por onde passa, o menino desperta muita alegria,
arranca sorrisos de corações magoados. Ele acende esperanças , recebe carinhos
e abraços enchendo de ternura a vida de
pessoas solitárias.
A cidade recebeu o indiozinho como um grande
presente de aniversário, um verdadeiro milagre. A pianista e o anjo Cabeleira
apadrinharam o menino que se tornou o gaiteiro mais conhecido e famoso
de todo o Rio Grande do Sul.
Renato Borguetti
Vou Banindo
Fotos registrando visita em uma reserva indígena, que na verdade, é um reduzido numero de índios vivendo agrupados em um pequeno galpão. O abrigo é coberto por telhas de brasilite, as paredes de alvenaria não tem janelas, apenas uma abertura, fechada para este mundo individualista e cruel que conhecemos. O cacique da pequena aldeia, se chama Mariano Garai, espera que eu volte para contar histórias para as crianças. Quando falei brevemente sobre a lenda do Menino de Pedra, ele disse que não conhecia, perguntou se era verdade. Expliquei que eu havia inventado tudo. Ai, ele começou a rir muito e me falou: Tem que voltar pra contar a história pras crianças, isso é muita ideia, muita ideia, tem bastante ideia.
Mário Barbará
Desgarrados
Desgarrados
O Filho de
Tupã
trecho de um dos capitulo da Lenda do Menino de Pedra
Foi num
recanto quase perfeito, bordado por anjos,
na superfície da terra onde foi lapidado o Menino de
Pedra, como um símbolo cravejado na rocha Imponente
e majestoso, o Morro Itacolomi descende do romance encantado entre o vale dos gravatás e uma
fértil colina. Apadrinhados pelo horizonte, foram presenteados com um precioso
camafeu contendo o mágico cristal pertencente a uma cigana, que foi a primeira
imigrante do vale. Assim originou-se a rocha do Itacolomi onde Tupã, numa
noite estrelada, concebeu seu filho. O Deus dos índios esculpiu com as próprias
mãos a rocha encantada. Acariciou as
extremidades da pedra que, aos poucos, revelou um corpo de criança. Enquanto
entalhava o menino, Tupã sentia a brisa do vale acariciar-lhe, refrescar o suor
de seu rosto sussurrando amorosas palavras. Inspirado pelo espírito da cigana,
Tupã confiou aos seus cuidados o filho criado para proteger a natureza e zelar
por todos os povos assentados próximos ao morro. Tupã aprisionou o aventureiro
espírito da cigana atando-a com laços de ternura ao indiozinho. O menino feito
de pedra jaz em seu leito como arte forjada na rocha. Reluz
veios espelhados, revela pequenos diamantes, formando um escudo protetor
da matéria que compõe o pequeno curumim. A rocha pontiaguda emerge como uma
seta apontada ao infinito, alertando a todos que fora o Deus dos índios quem a fixou ali,
como arte de Tupã. Quando Deus criou o universo, entregou-o a outros
deuses para dividi-lo entre diferentes povos. Aos dóceis índios nativos,
habitantes da região, Tupã concedeu a terra dos gravatás. O Morro Itacolomi, filho do grande vale, foi concebido para cercar e proteger estas
terras encantadas como uma resistente muralha. A rocha erguida na cabeceira do
morro tem o formato de uma criança. Ali repousa o menino de pedra, inerte,
fingindo estar adormecido, mas mantém-se atento a todas as agressões
contra a natureza e injustiças cometidas a seu povo.
No vale dos gravatás existem mágicos encantos. ..
A lenda do Menino de Pedra, é um romance dividido em capítulos, contando a história do filho de Tupã, que derramava lágrimas de mel para adoçar o coração das pessoas e semear harmonia entre os diferentes povos que vieram habitar o vale dos gravatas
Botão de Rosa
Querida Menina !
Você é para o universo o desabrochar de um lindo botão de rosa, envolto em sonhos, resguardado das promessas não cumpridas, porém, levianamente propagadas.
Algumas ilusões docemente cultivadas em teu coração facilmente emocionado, demonstrarão duras verdades, apontadas por um punhal frio e afiado, cortando tua carne, chamando-a duramente a realidade.
Porém, também as duras verdades se converterão em lindos contos de fadas, que saltarão diante de teus olhos inesperadamente como lindas borboletas camufladas sobre folhas das árvores, que muitas vezes só são percebidas ao esbarrarmos diante delas.
E mesmo que não desejes nada de surpreendente e fantástico, deseje somente força para viver cada novo dia, ainda que não esperes nada da vida, tua primavera tornará cada pôr do sol uma grandiosa sinfonia, orquestrada ao ritmo de teu coração vigilante, eternamente em sobre saltos, visto que, tuas emoções serão infinitamente multiplicadas, assim como as muitas oportunidades que surgirão em tua vida, porque guardas dentro de ti a força e o vigor da primavera.
Algumas circunstâncias farão com que tua vontade seja precipitar-te a própria sorte, sabendo não haver nenhuma verdadeira lágrima a ser derramada, pois fostes tantas vezes empurrada para longe de teu porto seguro.
Percebestes teus sonhos desprendendo-se de teu corpo, a deriva dos teus ideais, e nada mais eras além de uma pluma flutuando na imensidão do oceano. Ainda assim, tinhas sentimentos e chorava baixinho, porque ninguém queria escutar-te.
Todo o esplendor da tua juventude afundou borbulhando diante de teus olhos, fazendo-te lembrar as taças de champagne que nunca brindastes para saudar a chegada da tua gloriosa primavera.
Fostes despida de tua vaidade, não desejastes um vestido de festas, dançar uma valsa seria para ti um arremedo da dança dos lobos solitários.Não quisestes representar que estavas feliz. Então, carinhos, abraços fingidos, dedicatórias copiadas de folhetins, também não houve. Ainda tinhas voz, dissestes que nada disso importava. Parou de chorar baixinho, aprendeu a rezar! Agradecestes cada pôr do sol, quando a vida ofertava-te momentos de trégua, ao recostar-te em teu travesseiro, tendo nele teu melhor amigo, dividindo tua angústia, recuperando a força ceifada da tua primavera.
Para tua sorte, talvez decepção, a noite amanhecia e vozes de anjos sussurravam em teu ouvido : Ainda que te encontres sendo lançada em vôos rasantes, sem redes, sem asas, em queda livre, temendo os espinhos e as pedras que te aguardam, saibas que com a leveza de tua tenra idade se desejares poderás voar rumo ao infinito.
Sentirás o afago da brisa suavemente envolvendo-te, sustentando teu corpo inerte, desfalecido pairando livre no ar!
Poderás quem sabe, se a brisa não for o bastante para sustentar-te, as costas do vento há de ser suficientemente forte e carregar-te-á para um lugar mais seguro.
Mesmo, que a tua volta não haja absolutamente nada, nem brisa, nem vento, nem mesmo vontade. A ausência que faz-se vácuo poderá trazer-te tempestades; ainda assim, desejo lembrar-te: És um lindo botão de rosa!
Sempre existirão mãos generosas e compreensivas desejando amparar-te!
Se por descuido dos anjos ou severidades da vida, tudo aquilo que acreditas despir-te da tua convicção e certeza, sobrando-lhe somente dúvidas, medo e abandono, então sim, lança-te com fé e confiança do precipício que te expurga, e acredite, que mãos invisíveis te apontarão um novo caminho.
Ainda que tenhas teu corpo e a alma dilacerado, a vida te proporcionará reinventar-te, ressurgirás das tuas cinzas, retomando todo teu esplendor e graça, por que não deixastes de ser um lindo botão de rosa!
Sempre haverá ruas escuras e muitas encruzilhadas, se tua alegria for roubada num beco escuro da vida, a sombras das asas do teu anjo, segue em frente com confiança teu caminho, e ilumine com tua própria luz a tua estrada. Não esquecendo jamais, que és um lindo botão de rosa !
Se apagarem-se todas as luzes e enfrentares momentos de trevas e tormentas, as mãos que te empurraram para este caminho não poderão ajudar-te a retornar ao teu lugar seguro, mas não sintas raiva deles, nem guardes ressentimentos.
Olhe a tua volta e percebas que há muitas pessoas desejando-te te ajudar. Ainda assim, estarás imensamente sozinha, pois ninguém poderá emprestar-te a coragem e força necessária em tua vontade e em teus braços para emergir em escalada do fundo de um poço, quando deveria ter sido este o teu ninho.
Mas se fores infinitamente otimista e forte, ao invés de lamentar-te, olhes para o alto, serás ofuscada com a luz que sempre iluminou o teu caminho. Assim, não enxergarás mais as sombras e seguirás teu destino por uma nova estrada, florida, alegre, iluminada e para sempre lembrarás que nunca deixastes de ser um lindo botão de rosa!
Denize Domingos
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